sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

te deixar ser.
para que o peso que me é próprio não interfira em tua leveza.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

a valsa.


hoje vi no tempo o grande deus
é só ele - existe permanece é
numa vastidão que fico a me perguntar se não é isso que sempre foi
o tempo,
a coisa parada rodopia com o vento
meu senhor, deus tempo: leva contigo e com o vento, todo esse peso que é ser também assim: imensa, rodopiante, cravada num momento.
do qual não se tem jeito
é se deixar levar com o vento.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

cai o tan go


à pequena distância, tão longe ficou. ainda que posto à chama, diante de nós pairou o tempo. e lembrarás das vontades das labaredas e dos ventos, esses, e sentirás a necessidade de correr e queimar, esperando que as águas de teu corpo escorram, ainda que em lugar desconhecido, num outro oceano de ser.

rios que percorrem frouxo neste clima árido de um quase verão. vento que venta quente junto à chuva que cai gelada. ele e ela. diferentes iguais. dispostos à opostos complementares. entretanto, como sol e lua, sempre fostes.
Que eu tenha a força necessária para superar meus desafios, mas que eu não me esqueça que são os meus ossos que sustentam meu corpo, que é feito, além de músculos, pele; e que em minhas veias corre sangue.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ser é tão grande que me transborda, e não tenho outra coisa além de ser.
E se sou, sou aquilo que basta, sem dizer. Numa plenitude de quem se vive o agora. E o agora é tudo que tenho. E é neste agora que sou toda o que sou.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Do despir



Dois ou três copos depois estava eu, nua defronte o espelho, refletindo toda a falta de caráter que presumia ter. Carregada desta presunção, uma ferida aberta demorava a cicatrizar, e doía. Era eu a responsável por tudo que me havia acontecido. Sempre fora.

Descobri-me perdida e confusa quanto qualquer alvo que a ponta de meu dedo indicara. E era assim, a cada nova descoberta comia de minha própria hipocrisia.
Os olhos, antes vermelhos, estavam sensíveis diante da Luz. Quis ficar por algumas horas. Fiquei dias - que viraram meses. Junto aos meus passos trôpegos, eu mirei. Eu fui.
A razão ansiava pelo fim do ciclo anual, mas o coração sabia. Aquela era a hora de sua morte. E dentre todas, a que mais sentia.

Nunca morri de modo tão vivo. Tão assistido! Diante de meus olhos caretas, eu morria.
À vista minha própria nudez, gritava meu corpo pelo instante. Do qual, bem sabes, nunca pediu arrego. Dilacerava o meu peito, pedinte da verdade.

Alguns corpos depois, estava eu, nua defronte o espelho, refletindo toda vontade de ser. Algo em mim aguardava. Coisa de tempo que cura: a coisa da alma que experimenta.
A física quântica me pegara, à medida que a ciência da paz se aproximava.

Como era difícil despir-se.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Traçados

Aproximei levemente as pontas dos dedos nos lábios, como que se quisesse pará-lo. Num súbito impulso, levantei a mão na intenção de captar as palavras - elas, que mal saiam de tal boca; elas, submersas em meus pensamentos. Num movimento de sucção, pressiono. Conquisto pedaços e eu própria me engasgo.
Em meia luz, observo atentamente suas curvas negras sobre este leito vermelho. Te leio e releio afim de decifrar-te - de decifrar-me. Ter mais de você é ter mais de mim.
Sugo de sua boca - que na verdade é senão a minha - cada ímpeto que tens atordoado. Instigo as possibilidades de nos fazer acontecer. As possibilidades sempre seguem o fluxo do desejo - disto eu sempre soube. Inebrio qualquer coisa assim, pelo simples desejo de escrever.

terça-feira, 8 de maio de 2012

O epílogo do enlace.


Perfumei nossas fotografias e te fiz valer poesia. Com desvelo, uma a uma, beijei-as como se fosse nosso último contato. Fitei teu rosto por instante e em seus olhos pude ver um amor que nunca tive - dói demais ter de guardar estas lembranças.  

Sei que, amores assim, merecido de todo carinho, devem ser embalados nas mais bonitas caixas de presente, com um laço bem dado, para que não se percam com o tempo. Para que os ventos do futuro não oxidem, quando esta caixa se tornar uma caixa de passado. Espero ainda me perdoar por este pouco entendimento em química, por esta pouca habilidade com o vento, que desmancham com o tempo e amarelam os papéis de fino trato.

Falando em papéis, por horas fitei este papel em branco, do qual escrevo. Encarei-o como encarei aquela tua fotografia. Cerrei meus olhos e meu peito na medida em que fui percebendo como é difícil falar de ti. O como é difícil fazer com que desenhadas palavras - esta junção de letras e sílabas e suas sonoridades - possam obter algum sentido. Como é difícil me despedir de teus olhos, ainda que pelas fotografias - que beijo, e beijo e beijo com tanto carinho e agonia. Que fica o vazio em meus olhos refletidos no vazio desta folha em branco, neste fluxo de sentir contínuo, que me faz voltar e voltar e voltar nestas fotos, ainda que frias.

Enceno. Faço e refaço, protesto e protelo o momento em que darei o laço forte que envolve esta caixa. Este embrulho!
É amarela como pediu, a fita - tenho ainda sua voz falando sobre ela. Mas, assim como enlaçar, ela, a fita; a caneta contorna palavras em versos sem fim. Assim, na esperança de que as fotografias continuem a surgir por entre nossas fitas amarelas.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Condutor



Venho me carregando num tanto de doses homeopáticas e quase transbordo.
Arrisco um passo após o outro: passo estreito, caminho reto.
Corda bamba, caminho como quem caminha num beiral.
Me equilibro entre o que sou, fui e serei.

Venho por meio deste dar voz à um desabafo de pele entesada.
Feito de pó de estrada, água, uísque e mau humor
Balanço no berço do querer.