terça-feira, 25 de setembro de 2012

Do despir



Dois ou três copos depois estava eu, nua defronte o espelho, refletindo toda a falta de caráter que presumia ter. Carregada desta presunção, uma ferida aberta demorava a cicatrizar, e doía. Era eu a responsável por tudo que me havia acontecido. Sempre fora.

Descobri-me perdida e confusa quanto qualquer alvo que a ponta de meu dedo indicara. E era assim, a cada nova descoberta comia de minha própria hipocrisia.
Os olhos, antes vermelhos, estavam sensíveis diante da Luz. Quis ficar por algumas horas. Fiquei dias - que viraram meses. Junto aos meus passos trôpegos, eu mirei. Eu fui.
A razão ansiava pelo fim do ciclo anual, mas o coração sabia. Aquela era a hora de sua morte. E dentre todas, a que mais sentia.

Nunca morri de modo tão vivo. Tão assistido! Diante de meus olhos caretas, eu morria.
À vista minha própria nudez, gritava meu corpo pelo instante. Do qual, bem sabes, nunca pediu arrego. Dilacerava o meu peito, pedinte da verdade.

Alguns corpos depois, estava eu, nua defronte o espelho, refletindo toda vontade de ser. Algo em mim aguardava. Coisa de tempo que cura: a coisa da alma que experimenta.
A física quântica me pegara, à medida que a ciência da paz se aproximava.

Como era difícil despir-se.