sexta-feira, 17 de maio de 2013

Saltei da bolsa o papel e caneta que me fariam registrar - antes fosse que um click em seu rosto em plena oito horas da manhã. Falo isso porque, é isso que hoje fotografo em minha mente - deixe-me descrever:
É uma menina miúda de tudo, tão pequena, pernas e braços finíssimos, um rosto branco de cabelos bem negros escorridos pelos ombros. Menina de batom vermelho, vestida de gente grande. Carrega nas mãos um livro - que já bisbilhotei, é Nietzche! - tenho certeza ser mais pesado que ela. Senta de frente a mim no ônibus lotado. Lado esquerdo a janela que deixa entrar a luz solar das oito da manhã, deixando seu rosto ainda mais pálido - e observo um leve reflexo no vidro. Um reflexo todo negro, assim também são suas roupas. Tem cheiro de esperança, que apesar de tentar disfarçar sua leveza entre seus livros e panos pesados, seus olhos, também de criança, contam um pouco da singularidade de ser o que se é. E, se o que vejo, daria uma foto, a enquadraria então assim mesmo, junto com toda essa gente, que destonalizaria o plano de fundo e realçaria o seu vermelho. Porque assim ela o é.