quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

desde então

tinha toda a serenidade daquele que nunca amou - o que era mentira, já que os músculos e órgãos e vértebras se comprimiam e se tomavam o lugar, um do outro, assim como a cabeça o das estranhas, os pés o das mãos. era um amor não dito, não permitido e, portanto, não vivido. era o reflexo nos olhos daqueles pensamentos que vão, se era para dentro ou fora de mim, eu não sei. e perdeu-se.
E me perdi.
eram tantos, os recados, as mensagens, a religião, filmes, livros, auto-ajuda, comédia-romance, o drama, um suspense, do amigo, o vizinho, os devaneios na cachaça, o cara da balada, a menina no bar. todos eles e elas e nós, mirados na seta de um cupido ao acaso. somebody to love e que o peito exploda.
E explodi.
foi desses caras que falam demais e que bebem demais e que, junto à ela, sonhava demais - desses amores passíveis de se fazer as malas e fugir. logo ela que ria demais, chorava demais e desejava demais - e repetia, comigo não!
Eu repeti.
e disse - toda confusa, num jeito meio seu de dizer para dizer e que ninguém compreenderia - ela o viu fugir. diante de um cinismo e sobriedade que a vida e o álcool lhe dera, por entre as luzes dúbias do aconchego e abandono natalino, seu presente do ano partiu.

e tinha pernas, o menino. e andaria, como qualquer um que assim as tivesse - ela supôs.